“Ao se vislumbrar o conto “William Wilson” (1839), de Edgar Allan Poe, o tema do duplo (Doppelgänger) perpassa toda a narrativa. Com a premissa de que esse conto é um marco nessa temática, como afirma Otto Rank, estudioso de tal motivo, pode-se dizer que a denominação “Complexo de William Wilson” seja adequada para representar três elementos que emergem da narrativa mencionada de Poe: a existência de uma segunda personagem que compartilha traços físicos e psíquicos da personalidade “original”; o Unheimliche (tal como definido por Sigmund Freud em seu ensaio “O ‘estranho’” (1919)), o familiar e estranho impregnando uma mesma personagem (o outro; o duplo); e o espelho, auxiliador da manifestação do Doppelgänger. Tendo em mente o referido Complexo, o que se almeja demonstrar nesta comunicação é como os dois primeiros braços do Complexo de William Wilson são revisados no romance O médico e o monstro (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1886), de Robert Louis Stevenson. Com uma ampliação da abordagem da segunda entidade e com uma inovação no elemento unheimlich, o romance em questão ressignifica o tratamento do Complexo de William Wilson. A partir da revisão desses dois fatores, Henry Jekyll revela-se não somente um cientista, mas também um alquimista em direção a um experimento transcendental, cujo produto é a vinda de Edward Hyde, o assassino repulsivo que se configura como um necromante, ao incutir sobre si um conjuro capaz de causar a morte àqueles que observam a transformação que envolve Jekyll e Hyde.”
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(*)Republicamos esse ensaio aqui, com autorização do próprio autor, com fins puramente acadêmicos.