“O clima de mistério que perpassa a obra de Cornélio Penna (1896-1958) – Fronteira (1935), Dois romances de Nico Horta (1939), Repouso (1948) e A menina morta (1954) – é intrigante. Principalmente porque não existe uma tradição do gênero na literatura brasileira. O que intensifica a curiosidade do leitor e da leitora é o fato de não se tratar do romance gótico tradicional. É verdade que algumas das características dessa estética são encontradas com facilidade: atmosferas penumbrosas e soturnas, narrativas fixadas no passado, ambientes isolados, monstros, fantasmas. Porém, esses elementos por si só não são suficientes para uma classificação rígida. No romance gótico eles têm uma função: dar sustos, deixar o leitor em suspense ou com medo. Na obra corneliana, o mistério encobre com a mesma intensidade que revela: não é um fim, é um meio. Meio que revela dissimulando um estado de violência ocasionado pelo patriarcalismo escravocrata”
(*) Esse ensaio foi publicado originalmente nos Anais do XI Congresso Internacional da ABRALIC (2008). Republicamos aqui, com autorização da própria autora, com fins puramente acadêmicos.
Deixe um comentário