“Fixo-me em “Feliz ano novo”, o conto que empresta título ao já lendário livro que Rubem Fonseca, cuja obra vem sendo relançada pela editora Agir, publicou em 1975. Não só, provavelmente, é o mais cruel relato da coletânea, mas uma das narrativas mais violentas produzidas pela literatura brasileira dos anos 1970. O conto guarda uma estranha síntese dos métodos da ditadura, que se espalharam pela entranhas da sociedade brasileira na ordem de uma peste — o livro de Fonseca seria censurado no ano seguinte ao seu lançamento. Antes de tudo, a violência, arbitrária, indiferente ao sentido, cruel que, na narrativa de Fonseca, deixa os cárceres do poder para penetrar na penumbra do dia a dia e se transformar em um método de ação. Contra a violência, mais violência. Contra a miséria, mais miséria. O método nefasto da duplicação e da retaliação. (…)”
(*) Esse texto foi publicado originalmente no suplemento “Prosa”, de O GLOBO, no sábado 22/03/2014. Republicamos aqui, com autorização do próprio autor, com fins puramente acadêmicos.
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